quarta-feira, 11 de junho de 2014

Há legado para a copa?

Olá Amigas e Amigos!

Sete anos atrás quando veio o anúncio do Brasil sediar a copa do mundo de 2014, como boa parte dos brasileiros, dividi um sentimento de desconfiança com um pitaco de alegria. Por quê desconfiança? Se olharmos para o Brasil naquele ano víamos tantas coisas frágeis e nem falamos de estádios, que por aqui estavam por toda parte, mas sim de política de transporte em massa para estes locais, já que a décadas temos falta de investimentos adequados neste setor. Falamos de saúde que sequer atendia de forma adequada as emergências locais, sem contar o aumento no tempo do evento e de muitas outras fragilidades. Falamos também em investimento em segurança, adequação das forças policiais, com níveis de preparo muito desiguais pelo país pouco experiente em eventos internacionais de massa. Afinal, os estádios são o topo do processo e todos sabem que para se atingir ao topo temos que passar pelos alicerces antes...bem, no Brasil alguns dão seu jeitinho para instalar altos investimentos no topo, com alicerces frágeis que podem ruir a qualquer tempo. Impera a visão dos políticos de que obras são aquelas em que se podem tirar fotos e ter o nome de alguém e temos especialistas nisso, boa parte no poder executivo.

O sentimento de alegria de sete anos atrás vinha em parte do orgulho nacional e da expectativa que com aquela conquista, o governo federal iria puxar a responsabilidade para sí, como fez com tamanho afinco para buscar a copa, liderando altos investimentos em infra-estrutura e qualidade para os serviços essenciais, que exigiam o evento, com a certeza de que tudo ficaria como legado ao povo, passada a copa. Se tudo funcionasse direito, teriamos um tempo suficiente para que o povo visse as melhorias e se contagiassem com o clima, festejando a apoiando, envolvido com a festa.


Aconteceu a liderança do Governo Federal?

Não foi o que vimos. Vimos que sequer o Brasil tinha planos para saber aonde fariam seus jogos. Na cabeça dos políticos despreparados, passava de que bastava apenas alguns ajustes nos estádios com dezenas de anos de idade, que tínhamos e tudo estaria pronto, coisa fácil e simples, afinal somos o país do futebol. Somos? A Fifa veio então com o contrato e suas exigências e em outras palavras "joguem tudo o que tem fora e façam de novo".

Os políticos centraram nos estádios. Foram anos em que só estádios importavam. Muito tempo discutindo se o Morumbi poderia ser reformado e só muito tempo depois, com a intervenção direta do presidente da república, se decidiu por um estádio que sequer possuía área definida. Decidindo se o Maracanã teria que trocar ou não a cobertura e de R$ milhões, logo se passaram a altos R$ bilhões em orçamento. Aí apareceram os profissionais de obras de plantão e altas cifras foram obtidas do BNDES para a construção de estádios. Em São Paulo nenhuma outra opção seria aceitável pelo governo federal, embora existissem aqui vários estádios em posição confortável ao povo devido à sua localização, para que pudessem ser viabilizados, seguindo critérios como foram definidos no Maracanã e o Mineirão, estes prontos com praticamente 1 ano antes do estádio incompleto paulista. A aceitação passiva do governo paulista pela escolha, não parece ter sido acompanhada de um raciocínio coerente, mas talvez por força política de investimentos federais em outras obras de interesse local. Foi uma questão de honra para o governo federal ter todos os estádios prontos, porém, nenhum dos governos teve a mesma preocupação e desejo de honra para as obras dos alicerces.

Os nossos transportes de hoje são exatamente os mesmos de sete anos atrás. O tal trem bala, Campinas -> São Paulo -> Rio, sonhado como excelência, sequer saiu do papel e só Deus sabe se sairá. Os famosos monotrilhos ou VLT, não tem nenhum pronto e a maioria com obras ainda na metade, contando com o risco de virarem apenas isso, esqueletos pós copa. Os hospitais e prontos socorros sequer tiveram investimento especial e continuam no desprezo, pior com mortes à sua porta por absoluta falta de preparo de atendimento em recursos humanos e materiais. As linhas de ônibus em via exclusiva, quando apareceram foram em trechos maquiados dividindo espaço com outros veículos comuns, criando pontos de trânsito e acidentes. Escolas que poderiam talvez, até ensinar línguas estrangeiras ao menos básicas, mas vemos que algumas sequer tem paredes e local adequado para funcionar, um abandono total. Policiais mal pagos para colocarem suas vidas em risco todos os dias. Profissionais com baixo valor de reconhecimento pelo governo em todas estas áreas de suporte essencial. Olhando os aeroportos vimos esqueletos de obras para todo lugar e para os que receberam melhorias, ou desabam goteiras em chuvas ou estão a léguas de distâncias de onde o povo deveria chegar em peso. Tudo feito às pressas.


Tem gente ainda Feliz com os investimentos?

Sim, os empreiteiros e claro, os seus contratantes de quem sabe um dia venham à tona, com noticias não tão favoráveis sobre o processo. Se houvesse um plano de privatização das obras, quem arcaria com os investimentos seriam empresas privadas, mas como o próprio governo informou, não houve interesse de nenhum particular. Assim, para honrar o compromisso do governo federal o banco do povo o BNDES, abriu seus cofres e distribuiu altas cifras para empreiteiros que exigiam dinheiro para começar a trabalhar. E eles, profissionais da área e já escaldados por projetos de obra que viraram escândalos, não queriam assumir divida nenhuma, ao menos não queriam aparecer na foto. Queria que outros assumissem o mico, como aconteceu com o Corinthians na Arena Itaquera, o Internacional no Beira Rio e o Atlético Paranaense em Curitiba. Para todos os efeitos, são os clubes, os devedores e na verdade sequer são donos de seus estádios ainda. 


E o povo?

O povo assistia todos os dias as discussões pela imprensa sobre obras de estádios, políticos falando de projetos faraônicos que nunca saíram do papel e as condições básicas do povo se deteriorando cada dia mais, sem que ninguém assumisse o compromisso de bancar as reformas, tirando-as da pauta tanto política quanto da mídia. Não havia interesse pois era muito o que fazer nesta área.

O governo contava com a famosa aceitação do povo às promessas e isso foi um erro. O povo se organizou, foi às ruas. Pediu condições básicas, mas padrão Fifa também. A onda de protestos não foi por ser contra a copa pura e simplesmente, mas por ter sido esquecido nos alicerces que fazem o topo da copa. O governo, apoiado pelo alto investimento de setores importantes da mídia e de grandes corporações no projeto, de olho nos lucros de retorno, faziam questão diariamente de minimizar e camuflar situações criticas ao povo. Organizações que com seus altos investimentos que enriqueceram a Fifa apenas em troca de publicidade, não lideraram a vinculação de seus nomes a projetos sociais relevantes, pois não viam nisso o mesmo retorno. A exceção foi por uma marca mundial de refrigerantes que fez por sua conta a reforma de vários pontos comerciais no entorno de estádios e que ao final cobriu os imóveis com seu vermelho e branco clássico. Se o nome não aparece, a marca é reconhecida. Bairros e proprietários beneficiados com a gratuidade das reformas, lucram pela melhoria do aspecto visual e infra estrutura. A indústria irá faturar pelo retorno publicitário, o que outras empresas poderiam ter visto também. Entretanto, a grande mídia e a massa privada não se interessaram por criarem suporte ao povo.

Não teve jeito, nenhuma ferramenta de camuflagem sobrevive à organização do povo em um país democrático e coberto de comunicação livre como a internet. O povo foi às ruas divididos em várias organizações com suas reivindicações em todo o país e por vezes, com os grupos unidos. Infelizmente grupos de desordeiros oportunistas usaram de muitos momentos e da boa vontade dos movimentos, de se infiltrar e provocar o caos. Esta parcela não merece publicidade maior do que estas linhas, a não ser pelo fato de que muitos estão sendo processados pela justiça por várias cidades e no Rio, há 2 presos pela morte de um cinegrafista de TV. 


Qual o legado da copa para os brasileiros?

Os movimentos cresceram e são hoje o verdadeiro legado da Copa. Em ano de eleição, ganhe ou não o Brasil a copa, os políticos não terão como fugir. Se quiserem continuar em seus cargos terão que ceder e investir em políticas sociais mais fortes, na saúde, segurança, educação, transporte, moradia e muitos outros.

O legado não é o que pensávamos a sete anos, mas temos que mostrar que aprendemos como contratar nossos representantes para que quando assumam um governo, não façam do seu poder seu interesse local, mas o do povo. Estamos nos organizando, mas temos que mudar a postura e se mostrar presentes a cobrar antes que algo errado seja decidido, para evitar de apenas gritar quando já tiver ocorrido. Exigir os avanços sem maquiagem. Praticar a democracia.

Este é um ano importante de eleição. Foi em um ano assim que elegemos quem decidiu que uma copa e uma olimpíada seriam suas obras inesquecíveis. Vamos votar, mas não vamos anular ou votar em branco. Algumas pessoas entendem que estes são caminhos certos para protestarem e por se recusarem a eleger pessoas, que talvez pesquisas indiquem ser maioria entre quem vota. Entretanto, estes votos justamente favorecem e aumentam as chances destes candidatos serem eleitos. Isso se deve a uma manobra da lei eleitoral, claro, feita por políticos de olho nesta parcela rebelde da população. Então, vote sim, no seu candidato escolhido sem pressão ou medo da derrota. Se puder, convença as pessoas com opção de votar, como jovens e idosos, a irem votar também. Assim, continuamos com nossa organização e mostramos nossa força e construimos nosso eterno legado.

Até a próxima.

Abs.






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